26 de setembro de 2009

Descobertas...

Passei boa parte da minha vida decepcionado com minha carreira, com o que tinha conquistado profissionalmente e também com o fato de que sempre haviam pessoas com inteligência muito inferior à minha (modéstia a parte, ok?) ocupando cargos tão mais elevados que os que eu obtinha.

Me perguntava sempre, mas quais razões levaram o patrão a escolher alguém com um português tão medíocre, carregado de tantos vícios de linguagens, que não consegue conjugar um verbo em qualquer tempo que seja, e que, além de não ser hábil em sua língua pátria, muito menos em qualquer língua estrangeira, ainda por cima não conhece absolutamente nada de atualidades, não sabe os comandos mais básicos de informática, tem dificuldades tremendas em matemática e pra completar não possui o menor interesse e vontade de aprender coisas novas, de saber mais sobre a vida, não gosta de ler, nem de escrever, só se importa com revistas de fofocas, futilidades, novelas, futebol, enfim, toda essa desgraça que existe à rodo por onde quer que se olhe a ocupar uma posição mais elevada que eu?

Não era justo que alguém como eu, versado em vários autores da literatura clássica, conhecedor profundo de computadores, seja em nível de software ou de hardware, dotado de tão agradável nível de escrita e fala em língua portuguêsa, totalmente capaz de me comunicar em língua inglesa, que possui tamanho interesse em história, física, matemática, atualidades, tecnologia, enfim, alguém inteligente e culto, com língua de eruditos, versado ainda em direito, com conhecimentos em administração de empresas, marketing, filosofia, alguém que gosta de desafios, que aprende rápido, que tem coragem de trabalhar e não tem medo de enfrentar o que vier, ou seja, alguém que procura se sobressair e ser o melhor no que quer que faça, não achava justo que eu, com esse perfil tão aguçado, não conseguisse um cargo com boa remuneração e onde todas as habilidades que possuo fossem colocadas à prova, fossem exigidas ao máximo e incrementadas, um 'bom emprego' como me disseram certa feita...

Convivi contrariado com este fato por muitos anos, infernizado pelo sucesso de gente tão ignorante e medíocre ao passo que eu ficava para trás, a despeito de minha dedicação e força de vontade, até que, num belo dia, ouvi algo que foi capaz de mudar minha percepção das coisas, que foi capaz de me retirar a amargura de não haver ainda conquistado o tão sonhado sucesso profissional que me forneça condições mais agradáveis de sustentar minha família. Estava reclamando, ou melhor, corrigindo, erros de português em textos da empresa que trabalho, quando o colega da mesa ao lado, Bruno Capra, me disse: 'Cara, as empresas não querem funcionários inteligentes, elas querem funcionários que sejam especialistas no que fazem'.


Poxa vida, como nunca havia pensado nisso antes? Vivi tanto tempo decepcionado comigo mesmo por não colher os frutos de meu esforço em estudar e me manter atualizado, e, com tamanha simplicidade e coerência, tive abertos meus olhos para esta realidade, apesar de saber fazer muitas coisas, eu nunca fui especialista nisso ou naquilo, mas sempre soube fazer bem o que todos os outros faziam e mais outros inúmeros 'plus', algo que, pelo que parece, não é bem visto pelos patrões, que estão eles próprios longe desse nível de intelecto.

Ora, nada mais me deixa abatido agora no trabalho, tenho enfrentado todo dia tarefas ridículas e repetitivas, ciente de que quem quer que esteja ocupando um cargo melhor que o meu, pelo menos onde trabalho agora, não possui o coeficiente de inteligência que eu, e que, ainda por cima, sequer desconfia de minhas inúmeras habilidades e seria capaz de supor que elas são delírio de minha cabeça e que não sou eu possuidor de todas elas.


Era isso, achei salutar postar este pensamento tão sem modéstia, apesar de saber que quase ninguém vai levar a sério o que eu disse, mas nada disso importa, escrevo pra mim mesmo, gosto de ter uma cópia de minhas idéias pra referência futura.


Sem mais, agradeço novamente ao Bruno Capra por ter me apresentado tão formosa realidade.