22 de junho de 2009

E os outros?

Considero um grande problema nisso de ser anti-social ter que considerar que as outras pessoas podem perfeitamente não terem esta opção de vida. Por mais que seja idiota, isso pode muitas vezes me chatear. Não acho que todos devam viver isolados em uma bolha, nem considero que o mundo deva adotar como esporte o ir ao cinema sozinho.
Mas é que, por vezes, quando me sinto muito unido a alguém, passo a achar que nada mais é preciso. E é ruim a 'decepção' de saber que o outro lado (isso independente do nível de relacionamento) de fato não adota para si o meio de vida que escolhi.
Repito, não que eu ache que todos devam se enclausurar ou não ter amigos nem nada parecido, mas é que quando se é assim, muitas vezes as atitudes dos outros causam estranheza.
Veja bem: Por toda a vida estive perfeitamente habituado a ser apenas eu, eu e mais ninguém. Muitas coisas me levaram a isso, muitas pessoas tiveram forte influência na minha decisão. Chego a pensar que se as pessoas as quais me refiro não tivessem significado tamanha influencia, eu poderia ser uma pessoa diferente hoje (não que esta seja a minha vontade, pelo contrário).
Mas ter passado a vida toda tendo escutado de pessoas próximas que todos os seus deleites e sonhos eram 'inuteis e desinteressantes' me fez considerar que com eles ninguém jamais se importaria.
Mesmo sentindo falta de muitas coisas, de ter amigos de infância, de poder conversar com alguém que se conheçe há tempos sobre assuntos passados e coisas afins, acho que o modo como tudo ocorreu em minha vida não é de todo ruim, pelo contrário, acho que a pessoa que me tornei hoje é algo de bom (mesmo considerando arrependimentos passados).
Então voltemos ao assunto após esta breve explicação.
O fato é: eu não gosto de me enturmar, não sou chegado a conhecer novas pessoas, não converso com quem não tenho vontade de fazê-lo a menos que seja forçado e, principalmente, não tenho muitos amigos a quem fazer confidentes - dai a idéia de escrever, me sinto falando comigo mesmo e fico à vontade para externar o que penso e sinto.
Neste ponto acho justo dizer que a palavra 'decepção' que usei anteriormente não é a mais adequada. O sentimento que me toma não é o de decepção, mas talvez algo anônimo, que eu mesmo desconheço. É como se eu procurasse na outra pessoa um espelho que me refletisse, mas tivesse como resultado uma imagem como um negativo - cores invertidas.
Compreendo perfeitamente que a vida de qualquer pessoa é necessariamente baseada em relacionamentos, considero também como certo de que ninguém sobrevive sem se relacionar com as pessoas a sua volta. Por isso até mesmo eu tenho meus laços. Laços que ou são muito fortes ou muito tênues. Sou extremo, sou assim com qualquer pessoa. Ou me relaciono de forma intensa ou sou superficial. Por mais que pareça estranho, gosto de ouvir as pessoas, principalmente os problemas dos outros.
Logo eu que me considero tão cheio de problemas. Sou um poço de compreensão a quem consegue chegar até mim e me fazer ouvir. Posso ficar horas e horas só escutando o que me contam, absorvo tudo, filtro cada palavra e tiro delas a imagem do sentimento que assola quem as profere. Gosto disso, gosto do sentimento que causo em quem me fala, penso secretamente que sou um grande egoista por isso, mas é bom ouvir os lamentos de quem está por perto e perceber que, afinal, nada está tão ruim assim.
Minha grande dúvida nisso tudo é: O que divide a minha atenção e minha indiferença nesses relacionamentos que consigo cultivar? Ou ainda, o que me faz ter prazer ou não em escutar alguém, o que me faz querer ter alguém por perto?
Pouca gente teve até hoje o 'prazer' de ter meu desejo de proximidade ou de afastamento. E o pior de tudo isso é que eu quase sempre consigo, ao ver se aproximarem demais, afastar quem quer que seja. Por vezes com meu jeito destrambelhado e distraido ou por medo de mostrar a criatura frágil e tímida que no fundo sou. Afinal, no fundo no fundo, qualquer mostra de força e hostilidade serve apenas para resguardar o frágil interior. Qualquer pessoa que queira atingir este ponto necessita muita força de vontade e disposição para passar por dissabores.

Resta uma dúvida: Vale a pena?

Repito, não tenho a menor pretenção de que ninguém seja meu amigo, que ninguém seja forçado a isso ou coisa do gênero. Até por considerar que ninguém precise sofrer pra ter um amigo, oras. Amigos estão a toda esquina. Em cada bar, cada cinema, cada metro, é possível encontrar alguém não tão estranho e mais disposto a se relacionar.
Aliás, eu vejo a vida das outras pessoas, vejo hoje pessoas com quem me relacionei, vejo como estão, o que fazem, como levam as vidas e fico me perguntando que peso tive eu na forma como levam a vida, que modificação consegui causar. Pois acho vazio entrar e sair na vida de alguém sem deixar marcas, relacionamentos não são pra isso.
Desta forma fico triste ao pensar que posso ter passado pela vida de alguém sem ter feito com que ela se transormasse de alguma forma. Além do mais tenho absoluta certeza de que da mesma forma com que guardo lembranças de pessoas que sequer meu nome sabem, muitas pessoas de mim se lembram sem que eu sequer tenha conhecimento de que elas de fato existem.
Neste ponto existe alguma ligação com o passado que torna a memória de todos seletiva, e nisso sou igual: Guardo as lembranças mais convenientes ou as que mais deixaram marcas. Queria sim poder lembrar de mais coisas e não me esquecer de quem se lembra de mim. Mas da mesma forma como se sentem mal as pessoas que são esquecidas, também fico eu triste ao perceber que quem de certa forma teve alguma importância na minha vida de maneira alguma guarda o menor resquício de memória a meu respeito.
Chego a pensar sobre os motivos que levam alguém a guardar lembranças de minha pessoa ou de períodos de convivência comigo. Afinal, o que existiu de tão interessante ou memorável no breve contato que o fez digno da honra de estar presente no rol das memórias de quem quer que seja?




Texto escrito em fevereiro de 2008.